No imediato pós-guerra, quando estadistas e diplomatas europeus começaram o processo de integração que deu origem à União Europeia, talvez, não imaginaram a proporção que o bloco ganharia no mundo contemporâneo. Com 27 países, um PIB de aproximadamente U$ 15 trilhões e uma população de 495 milhões de habitantes, a União Europeia tornou-se um ícone no processo de integração no atual estágio do capitalismo. Iniciado como uma maneira de aumentar a interdependência entre os países europeus e assim evitar uma nova guerra de grandes proporções entre eles, bem como para cooperar na contenção do comunismo, a União Europeia, ao longo de seus pouco mais de 50 anos (o marco inicial é o Tratado de Roma, 1957, que criou a Comunidade Econômica Europeia) vive oscilando entre momentos de êxtase e frustração.
Desde a inclusão de países do leste europeu no processo de integração (isto a partir do início século XXI), os problemas ganharam diferentes e maiores proporções. Logo, questões como a xenofobia, os movimentos migratórios interbloco e a diversidade cultural entre as nações membras provocaram o aumento de questionamentos sobre os benefícios da União Europeia para seus membros, principalmente em relação à capacidade do organismo supranacional em colaborar para a resolução dos problemas europeus, como o baixo crescimento econômico e o envelhecimento populacional.
Porém, no momento atual, os países que mais provocam problemas para o bom andamento da integração europeia não estão no antigo lado comunista da "cortina de ferro", mas, sim, são aqueles que a imprensa internacional agrupou na pouco elogiosa, porém, significativa sigla "PIIGS", um claro trocadilho entre os nem um pouco asseados suínos e Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, países que, nos últimos anos, tratam a saúde fiscal de seus orçamentos como verdadeiros chiqueiros, mesmo sendo parte do grupo dos 16 Estados do Velho Continente que adotaram o Euro como moeda. De fato, os "PIIGS" estão muito mais para os preguiçosos Cícero e Heitor (os porquinhos das casas de palha e madeira) que para o responsável e dedicado Prático (o porquinho da casa de cimento e tijolos).
Nesse quadro, a Grécia é o país que vive a situação mais delicada. Com a retração econômica dos últimos anos, as contas fiscais gregas entraram em colapso, ou seja, a Grécia registrou um buraco de 12,7% do PIB nesse item, quando as regras do Tratado de Maastricht (documento que fez a transição da Comunidade Econômica Europeia para a União Europeia, estabelecendo a criação de uma moeda única no bloco, datado de 1992) estipulam o teto de 3% do PIB. Numa situação normal, isto é, se os gregos fossem os responsáveis pela condução de sua política econômica (o que não é possível por tal tarefa ser atribuição do Banco Central Europeu), o governo nesse estágio poderia adotar medidas monetárias usando a inflação para reduzir a dívida, ou de política cambial, para aumentar a competitividade externa de seus produtos. Porém, os países que adotaram o Euro perderam tais instrumentos. No caso grego, portanto, o que sobra é esperar a ajuda de países como a Alemanha e a França, um auxílio que deve ser na casa de 25 bilhões de euros para ser eficaz. Contudo, o empréstimo patrocinado pelas potências europeias não acontecerá se os gregos não aumentarem a idade para a aposentadoria no país (hoje 63 anos), assim como não elevarem impostos e cortarem investimentos para diminuir o déficit nas contas fiscais, medidas que, aliás, possuem um custo político interno gigantesco.
Na Espanha, por sua vez, a taxa de desemprego é a maior da Europa, ou seja, 18,5%, assim como o déficit fiscal encontra-se na casa de 12,5%. A Irlanda, que conseguiu um espetacular salto econômico na década de 1980, a ponto de receber a alcunha de "Tigre Celta", amargou no ano passado um encolhimento de seu PIB de 7,3% e, atualmente, tem uma taxa de desemprego de 12,6%. No que diz respeito a Portugal, o país conta com uma taxa de desemprego de 9,2% e um déficit na casa de 9,7%. Nem a antes poderosa Itália (embora Eric Hobsbawm diga que os italianos sempre tiveram mais fome que dentes...) escapou dessa crise aguda, pois os italianos sofrem com problemas demográficos por possuírem uma população demasiadamente idosa e também, gradativamente, perdem competitividade na economia internacional em meio a sucessicos desastrosos governos.
E o Brasil nesse contexto? Com o espaço para crescimento econômico dentro da Europa limitado, as grandes companhias europeias voltam-se cada vez mais para os países emergentes, dessa maneira, o Brasil ganha importância, pois tende a receber mais investimentos de empresas oriundas do Velho Continente. Os exemplos das francesas Carrefour e Renault e da sueca Volvo, empresas que tiveram um expressivo aumento de sua atuação no Brasil no último ano, atestam a tendência de expansão de gupos europeus em solo brasileiro.
De fato, a situação da União Europeia não é das melhores. Engessada por políticas sociais e trabalhistas rígidas, bem como excessivamente dependente do mercado interno e sob o peso de economias frágies, a saída para o bloco não se desmanchar como um sacolé no sol de fevereiro passa pela realização de reformas estruturais, assim como pelo respeito às normas estabelecidas pelo Tratado de Maastricht e pelo freio na expansão de países membros que adotem o Euro como moeda. Portanto, enquanto a União Europeia seguir adotando como membros da zona do euro porcos em pele de cordeiro, ou seja, economias frágies em demasia para a acompanhar o ritmo dos países mais estáveis do bloco, tornar-se-á impossível a construção daquela casinha de tijolos que Jean Monet e Robert Schumann, ministros fundadores do processo integração europeu, tanto queriam para o Velho Continente.
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